Uma imensa tristeza cerceia minh’alma
Impermeabilizando-a para qualquer outro sentimento
O inútil corpo, coitado deste,
Veste d’alma, bebe da mesm’água
Os verbos os conjugo como me aprovem
O amar só no passado me convém
Reflexo por ter sido posto no corpo errado
Que verbo me resta: matar-me. Tempo futuro presente seja
Fios dispersos de dores passadas
A minh’alma chicoteiam, deixam feridas sem cura
Fios constantes de dores presentes
A minh’alma, inerte, não deixa ponto de fuga
O gume da navalha que tanto fascina
A alma desesperançada prazerosamente passeia
Presa na dor que demasiadamente a verga
A alma pediu ao corpo, no tempo certo, o seu verbo
Alma de bengala branca, cega
Não entende que o corpo apela
O corpo que tudo enxerga
Não entende, cega, a alma tudo revela
setembro de 2006